O cara é espetacular! Depois vou postar um texto meu embasado no que segue:
Algoz x Vítima
Paul Ferrini
O mais profundo ensinamento que você pode ter acontece quando você tem uma reação forte a algo que alguém diz ou faz. Embora a sua tendência, numa situação como essa, seja se concentrar no comportamento da outra pessoa, a verdade é que a sua reação não tem nada a ver com a outra pessoa. A Sua reação mostra o ponto em que você está em conflito, não a outra pessoa.
Todo conflito tem origem em algum tipo de culpa ou insegurança. Se você está se sentindo inseguro quanto a sua inteligência e alguém o chamar de burro, você ficará sentido ou irritado. A reação é causada pela sua insegurança. O que a provocou é irrelevante. Qualquer pessoa a poderia ter causado.
Se está tendo um caso com uma pessoa casada e se sente culpado por causa disso, você vai reagir quando alguém chamá-lo de traidor. A sua reação se baseará no fato de que você se sente um traidor; a outra pessoa só desencadeou essa reação. Se você não se sentisse um traidor, não reagiria de maneira defensiva ao comentário.
A necessidade de se defender vem da culpa que você sente. Quando atacado ou insultado por alguém, você só fica magoado ou com raiva se acha que o ataque é justificado. Você acha que fez algo errado e agora isso foi descoberto. Você sabe que merece ser castigado e a única coisa que pode fazer para evitar esse castigo é se defender.
A defesa é a admissão da culpa. Por que você se defenderia se não se sentisse culpado? Você se limitaria a rir e a dizer, “Boa tentativa, irmão”.
Você não levaria o ataque para o lado pessoal. Você veria que a pessoa só está atacando a si mesma e que você foi o estopim desse ataque. Você saberá que a dor que essa pessoa sente não é culpa sua.
Toda dor ou insegurança que você sente com reação a si mesmo é um ponto fraco que outra pessoa pode atingir. O fato de outras pessoas tocarem esse ponto fraco não é, de modo algum, o que chama a atenção. O que chama a atenção é o fato de você culpá-las por isso.
Se você pendura no pescoço uma placa dizendo “Bata-me”, é de surpreender que algumas pessoas a interpretem literalmente? E verdade que nem todos agirão assim. Algumas pessoas só rirão e seguirão em frente. Mas outras pararão e olharão para você ou o levarão a sério. Elas também têm uma placa no pescoço dizendo “Bata-me” e sabem como você se sente. Elas sabem que você precisa apanhar para se sentir melhor com relação a si mesmo. Você não tem sido um bom menino ou uma boa menina e precisa ser castigado. Elas ficarão satisfeitas em lhe fazer esse favor.
As pessoas que atacam você estão fazendo o que, na sua visão equivocada, acham que você quer que façam. Elas estão atacando você “pelo seu bem”. Elas são sempre capazes de justificar seu comportamento com relação a você, assim como você também pode justificar o seu.
Nunca pense, “Isso é inaceitável. Não deveria nem poderia ter acontecido. Eu não permitirei”. Se a pessoa que sofreu o abuso acreditasse nisso e comunicasse isso com franqueza, o abuso nunca teria acontecido. O abuso só acontece no espaço nebuloso da culpa e do castigo.
Tudo o que você tem de fazer para dar um fim na transgressão na sua vida é dizer, “Não estou gostando disso. Você pode parar?” Basta um simples pedido, mas você acha muito difícil fazê-lo. Por quê?
São muitas as razões. Talvez você seja uma criança sofrendo nas mãos de um adulto. O adulto ocupa uma posição de autoridade. Em geral é um pai ou mãe que você ama. Mesmo que você seja um adulto, os mesmos padrões estão em ação. Você quer o amor e a aprovação daquele que abusa de você, sem se importar com o quanto isso vai lhe custar, por isso você minimiza a dor ou a dissocia totalmente. Ou então você aceita que merece a dor, pois não se sente uma pessoa de valor.
Os adultos que são vitimizados tentam sentir novamente a dor causada pelo trauma de infância, de modo que possam romper os padrões de dissociação, recordam-se do abuso e tratar de modo consciente as suas feridas. E por isso que eles muitas vezes se casam com uma pessoa muito parecida com a que abusou deles. Só o agravamento da ferida pode rachar a carapaça da negação inconsciente. A liberação dos sentimentos reprimidos de raiva, culpa e ódio por si mesmo abre a porta para a cura e para a integração.
A deslealdade consigo mesmo tem muitas versões. E importante que você entenda a sua versão. Culpar a pessoa que praticou o abuso contra você não vai libertá-lo do ciclo da violência, pois o padrão gera a si mesmo e jaz no nível inconsciente. Se fazer de vítima é uma forma de deixar o outro culpado, um ataque disfarçado de inocência. Enquanto ficar no vitimismo e na culpa, você passará o padrão adiante, transmitindo a ferida de geração em geração. E tudo porque você não teve coragem de olhar para si mesmo.
Ao tornar o padrão consciente, você pode sentir plenamente o desrespeito contra si mesmo, perdoar-se e tomar a decisão consciente de não ser mais vítima. Isso, e somente isso, interrompe o ciclo de deslealdade consigo mesmo.
Seja qual for o caminho que você tenha escolhido para a dor — e existem muitos —, você sofrerá até que se volte para quem está abusando de você e diga, “Isso é inaceitável para mim. Eu quero que você pare agora”. Você deve dizer isso sem nenhuma reserva. Tem de dizer calmamente, “Eu prefiro perder o seu amor do que continuar desse jeito”.
Você tem de defender a sua posição. Até que você tenha coragem de dar apoio a si mesmo, sempre haverá alguém que abusará de você. Na verdade, você continuará atraindo para você pessoas dispostas a cometer abusos até que decida que, para você, já basta. Então, toda vez que tocarem no seu ponto fraco, reconheça a dádiva que isso representa, pois é uma chance que lhe dão de se conscientizar do padrão de deslealdade consigo mesmo. Não culpe quem cometeu o abuso. Em vez disso, pergunte a si mesmo, “Por que eu me envolvi mais uma vez numa situação em que não sou respeitado ou ouvido?” Tome consciência do medo e do auto julgamento que marcam a sua vida. Veja o quanto a sua auto-estima é baixa. Veja como você aceita o amor a qualquer preço. Veja como você vive negando o seu medo do abandono porque tem medo de olhá-lo de frente.
Pare com o jogo de reagir aos outros. Recuse-se a ser um objeto, mesmo que você tenha a impressão de que assim você consegue o que quer. Observe a sua experiência e aprenda com ela. Promessas de amor condicional não têm lhe acrescentado nada. O não cumprimento dessas promessas só tem agravado o sentimento que você tem de estar sendo traído e abandonado por aqueles que ama.
Lembre-se de que você decidiu ser um objeto. Você deu permissão. Reconheça o seu erro, o desrespeito que cometeu contra si mesmo, para que não volte a cometê-lo. Assuma a responsabilidade. Pare de projetar a culpa. Pare de mentir. Só é vítima quem quer.
Não importa o que você acha que tenha acontecido no passado. Reconheça que você não pode levar a sua vida adiante sem antes aprender a dizer “Não” para o abuso aqui e agora. Não faca disso uma questão moral ou filosófica. Aprenda a dizer “Não” para os convites que o levam a se iludir no presente.
Assim como um alcoólatra que não pode viver sem álcool, você não consegue dizer “Não” para a promessa condicional de amor. Admita o seu sentimento de impotência. Sem ajuda, você não vai conseguir superar o seu padrão inconsciente de deslealdade consigo mesmo. E a ajuda de que você precisa é a atenção consciente. Você precisa ver como você fica inconsciente, como permite o abuso, reiteradamente.
Até que você veja o padrão e assuma a responsabilidade por rompê-lo, ele continuará. Não importa quanta terapia você faça ou a quantos tratamentos se submeta.
O alcoólatra recusa a bebida porque vê que, se aceitá-la, estará abrindo mão do seu poder pessoal. Você se recusa a ser um objeto de abuso pela mesma razão.
Veja que, enquanto achar que o problema está fora de você, não conseguirá resolvê-lo. Você culpará os outros, culpará as instituições da sociedade, culpará Deus, mas o problema continuará. Pois o problema é a deslealdade consigo mesmo. Até que aprenda a dizer “Sim” para si mesmo, você não conseguirá dizer “Não” aos outros.
O problema nunca é o fato de que os “outros” traem você. Os outros simplesmente refletem de volta pana você as suas próprias crenças acerca de si mesmo.
As outras pessoas lhe concedem a dádiva da auto-reflexão. Sem a ajuda delas, que refletem de volta as suas suposições inconscientes, o seu processo de despertar demoraria muito mais.
O seu irmão é o seu professor. Ele lhe mostra o que você tem de olhar em si mesmo. E você faz o mesmo por ele. Esse é o drama do despertar.
Não faça dele uma novela. Não faça do seu irmão ou irmã o responsável pela sua experiência. Eles nunca podem ser responsabilizados pelo que você vive.
Os outros seres humanos, seus companheiros, não foram feitos para serem bodes expiatórios ou semideuses. Eles não são a causa do seu sofrimento nem a causa da sua salvação.
Eles são todos peregrinos na mesma viagem. O que você sente, eles também sentem. Assim como você, eles estão aprendendo a ver os seus próprios padrões de deslealdade. Assim como você, eles estão aprendendo a dizer “Sim” para si mesmos e “Não” para o abrir mão do seu poder pessoal.
Tenha paciência. Essa é uma jornada rumo à total recuperação do seu poder. Quando o eu tem todo o seu poder de volta, o abuso fica impossível.
(Mas, por outro lado, se você pensa que por abusar de alguém isso prova que você tem poder pessoal, você se engana. Desta forma você apenas estará mostrando ao outro como você foi tratado na sua infância. Na verdade, você assim só se tornará dependente do outro, caso ele aceite jogar o contra-papel de vítima para que você projete nele a sua própria criança ferida.
Neste tipo de relação doentia a dor do passado nunca poderá ser curada, pois estará sendo mantida na inconsciência pela negação e pela projeção que motivam os atos obscuros daquele que ocupa o papel do algoz, atos freqüentemente justificados pela racionalização de um advogado em causa própria que usará os mesmos argumentos herdados de quem o abusou.
- Nota intrometida por Sergio Condé)
DESPERTANDO JUNTOS
Quando duas pessoas travam um relacionamento espiritual, elas concordam em ajudar uma à outra a se conscientizar dos seus padrões de deslealdade consigo mesmo. A intenção delas não é aumentar os seus sentimentos negativos, mas oferecer segurança suficiente no relacionamento para que os sentimentos negativos possam vir à tona e os padrões de deslealdade consigo mesmo possam ser revelados.
O companheirismo espiritual não significa apenas compartilhar o mesmo propósito e a mesma orientação na vida, mas é também um compromisso mútuo e corajoso de assumir a responsabilidade e eliminar a culpa. Toda pessoa está aqui para ajudar o parceiro a parar de projetar, a parar de fazer o papel de vitima, a parar de encontrar problemas fora de si mesmo. Ela não faz isso passando sermões, mas criando um espaço seguro e cheio de compaixão no qual o parceiro possa ficar frente a frente consigo mesmo.
Se ele vê em outra pessoa um inimigo, ela não pode ser conivente. Ela se recusa a jogar o jogo do bode expiatório, da culpa e do ataque. Mas ela pode amá-lo. Pode aceitar o modo como ele se sente. Pode reconhecer os sentimentos dele e incentivá-lo a encontrar o caminho para a paz dentro do próprio coração.
Embora ela veja o parceiro fazendo projeções, ela não tenta consertá-lo, pois isso significaria compartilhar da mesma mentira. Ela simplesmente ficaria consciente de quem ele realmente é. E desse modo ela o chamaria de modo gentil e não-verbal, de volta para si.
Acima de tudo, ela simplesmente ouve. Não concorda com o que o parceiro tem a dizer nem discorda dele. Ela sabe que a opinião dela nada significa e, se significasse, o afastaria do seu processo. Ela simplesmente ouve profundamente e com compaixão. Ela ouve sem julgar ou, se julgar, toma consciência do seu próprio julgamento e volta a ouvir. Ela ouve com o coração aberto e com a mente aberta. E esse ato de ouvir torna-se uma bússola que leva a verdade. Quanto mais ela o ouve sem julgá-lo, menos ele acusa. Aos poucos, ele volta para si mesmo por meio do amor que recebe dela.
Essa é a dádiva que o parceiro espiritual oferece ao outro. Essa é a pérola valiosa.
Quando um consegue dar ao outro a dádiva da aceitação e do amor incondicionais, ampliando essa dádiva para incluir a todos, deixa de haver projeção, deixa de haver condenação, deixa de haver ataque. Deixa de existir objetos. Não existem mais vitimas nem algozes.
Haverá parceiros em pé de igualdade na dança da vida. Haverá corações se abrindo. Um pouco a princípio, mas num tal número depois que eles ameaçam abarcar todo o universo manifesto. E, na verdade, um dia eles de fato o abarcarão.
Quando tudo o que é visto como algo sem valor e prejudicial passar a ser benéfico e sagrado, não haverá mais a impressão de que se está separado da fonte de amor. Cada um de nós será um raio de luz radiante emitido, por toda a eternidade, do centro do coração. Um raio que dissipa a separação e o pecado, batizando a culpa nas águas do próprio medo e saudando-os com buquês de flores à medida que emergem das águas, inocentes e livres.
Essas são dádivas que temos de oferecer uns aos outros quando a ilusão do abuso tiver acabado. E o abuso acaba no momento em que nos lembrarmos de quem somos e quem nosso irmão ou irmã realmente é.
Paul Ferrini – O Silêncio do Coração - Ed. Pensamento
quarta-feira, 17 de março de 2010
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Um comentário:
Adorei! Me vi em muitas das situações abordadas no texto e concordo que só a tomada de consciencia de que se é vitma e passar a se respeitar de dentro para fora pode dissolver os algozes que encotramos pela vida.
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