sábado, 11 de dezembro de 2010

A criança nasceu - Capítulo 12 por Márcio Lupion - marcio@kallipolis.org

Era Dezembro do meu primeiro ano de vida de monge. Todos nós chegamos ao ashram onde estavam os monges de origem hindu preparando uma puja, uma festa sagrada para Jesus Cristo. Era bastante jovem para poder entender o que aquele universo de cristianismo estava fazendo dentro de um templo junto com Krishna, Rama e o Senhor Shiva, mas achei aquilo normal por conta de todas as leituras que tinha feito; estranhamente aquilo tudo me parecia natural.

Em um determinado dia, com as experiências de clarividência se sucedendo, eu lembrei de um conto russo o qual narrava de uma vila gelada do norte da Europa onde, quando as pessoas passavam umas pelas outras, em vez de falarem "Feliz Natal", falavam "A criança nasceu". É uma referência prática do dia-a-dia do nascimento do Jesus, o nascimento de um Cristo na Terra e aquilo ficou na minha memória.

Os dias se passavam e em meados de Dezembro, voltando da faculdade à noite, agora preocupado com cada sombra que passava na frente, -porque as sombras pareciam vivas, do mesmo jeito que os espectros de luz, que passavam nas laterais dos olhos- eu virava para olhar e ver se tinham forma, mas na verdade importava agora mais a sensação do que a própria figura. Caminhando pelas ruas de Higienópolis, passei pela Praça Vilaboim e subi a ladeira da Rua Alagoas. Lá na esquina, no alto da ladeira, vi um mendigo. Achei que fosse um mendigo porque ele estava descalço, com um macacão azul marinho que ia até os pés. Era um homem de tez morena e o cabelo entre um castanho claro e um cor de mel, nem comprido nem curto e com um olhar absolutamente inesquecível. Os olhos eram de uma cor indefinida, embaixo da luz noturna pareciam meio amarelos, depois que se olhava com cuidado parecia da cor verde, depois em alguns momentos achei que tinham rajadas azuis.

No entanto, não era a cor e nem a aparência forte -e ao mesmo tempo infantil desse homem- que me impressionavam, era a limpeza que eu percebia no seu corpo. Parecia que cada poro dele fosse um cristal, parecia que o cabelo dele tinha acabado de ser lavado, como naquelas propagandas de xampu que a gente vê na TV. Ele realmente parecia uma holografia, só que esse conceito lá para o ano de '83 ou '84, próximo ao Natal, nem existia e a gente nem sonhava com essa possibilidade. Mas ele era de uma limpeza e um asseio impressionantes.
Olhei então para aquele homem, peguei todo o dinheiro que estava no meu bolso, estendi a mão na direção dele e sorri; ele sorriu de volta para mim, estendeu o braço e eu coloquei o dinheiro na mão dele. Ele simplesmente sorriu, sem proferir palavra alguma.

Passei a sentir arrepios no corpo todo, parecia que tudo se tornara clarividência, não conseguia mais distinguir entre os seres humanos e as visões. Nesse momento sorri, virei as costas e caminhei por uns vinte, trinta metros, começando a racionalizar sobre o que tinha acontecido. Lembrei-me da limpeza impressionante das mãos, do rosto, do olhar e foi quando percebi algo que me fez olhar para trás.
Lembrei-me que os pés dele, que observara em primeiro lugar, eram absolutamente limpos, parecia que tinha acabado de sair do banho, pisando na toalha fora do Box. Era de uma limpeza descomunal e ainda quase não percebi a sombra dele, embaixo daquela luz na esquina. Olhei para trás quase que por impulso, querendo conferir se tudo aquilo que eu vira era real. Quando me virei, senti um brusco arrepio, daqueles experimentados quando a gente transita entre as dimensões, um arrepio que se transformou em uma dormência que descia pelas costas, porque, quando eu olhei para trás, vi que aquele homem não estava mais lá. Achei que ele tinha descido a ladeira, ou simplesmente saído do meu campo de visão. Mas o que realmente me impressionou é que na realidade não havia a tal luz lá em cima, não havia um poste, ou a luz de alguma residência da esquina. Continuei caminhando para casa na noite escura com aquela sensação de arrepio e de estranheza que o corpo manifesta quando passa por isso, mantive a mente vazia e simplesmente colecionei essa sensação com todas as outras que estavam se sucedendo.

Passaram-se dias, a puja de Natal estava chegando e em um dia no início da noite, indo para a faculdade, próximo ao cemitério da Consolação, eu vi novamente aquele homem do outro lado da rua. Ele estava sorrindo para o nada, ou como se estivesse olhando para as andorinhas do final de tarde, que naquela época lotavam os buracos da lateral do cemitério onde elas faziam ninhos. Era absolutamente agradável ver os vôos rasantes, o momento em que a andorinha plana e o momento em que ela dança com seu companheiro. E aquele homem, aquele mendigo -o mesmo de outro dia-, estava parado ali, com o mesmo macacão, descalço do mesmo jeito... No dia do primeiro encontro eu tinha percebido que no meu bolso havia ficado uma moeda. Aquela moeda me atormentara até esse novo encontro, porque eu queria ter dado tudo, no entanto tinha sobrado alguma coisa. Algo absolutamente deselegante nesta situação, porque eu deveria ter entregue tudo, sobretudo quando a gente acha que tivera uma visão de algo superior, como eu supunha ter tido.

Mais uma vez, a impressão de luz sobre a cabeça daquele homem era muito forte, como se tivesse um holofote ligado sobre ele. Atravessei a rua correndo em sua direção, como uma criança corre para um brinquedo. Ele me olhou com um olhar tranqüilo, gentil como sempre, com aquele mesmo olhar, da primeira vez doce e agora com a mesma doçura mas emanando muito, muito afeto. Esse homem ficou parado na minha frente, e desta vez eu conferindo se tudo que estava no meu bolso ia para as mãos dele, mesmo que eu estivesse abrindo mão do meu jantar, ou tivesse de voltar para casa a pé. Eu simplesmente sentia que tinha que dar tudo. Estendi a mão e dessa vez eu falei: - Senhor, outro dia eu lhe encontrei e não dei tudo que eu tinha, agora -graças a Deus-, tive a oportunidade de reencontrá-lo e estou lhe entregando tudo que está no meu bolso, e se o Senhor quiser o meu livro sobre Budismo, também posso lhe doar.

Seus olhos se encheram d'água, ele pegou a minha mão que estava com as palmas para cima segurando o dinheiro e com uma delicadeza enorme fechou-a sobre o dinheiro. Deu um sorriso que transmitia uma expressão de profunda gentileza e simpatia. Olhou fundo dentro dos meus olhos, um olhar que fez tremer meu corpo inteiro, estremecendo tudo o que poderia chamar de estrutura física. Parecia que meus joelhos estavam chocando-se e minha perna perdeu o equilíbrio. Virei de costas rapidamente para ele não perceber nada, principalmente o suor frio na minha fronte e caminhei, afastando-me para longe. Quando parei e olhei para trás... nada havia. Simplesmente, deixei aquela sensação para trás e fui embora, acreditando então que aquela visão tivesse sido uma visão vinda do céu.

Insegurança :: Elisabeth Cavalcante ::

Uma das condições que mais acentuam a nossa insegurança é o estado de paixão, pois quanto maior ele for, mais intensamente passamos a temer a perda do objeto amado.

O amor, -por mais desejado que seja em nossa vida-, é algo que nos torna frágeis, principalmente se não tivermos uma auto-estima sólida. Somente quando o sentimento de sermos completos está presente, num estágio anterior ao da paixão, é que conseguimos nos entregar a este sentimento e permanecer imunes ao medo.

Então, podemos ver no outro alguém que vem para nos complementar, para tornar a vida mais alegre e plena, e não um apoio sem o qual nos sentimos vazios e incapazes de sobreviver.

A entrega destemida ao sentimento do amor, só se torna possível se formos totalmente fiéis à nossa própria essência, aceitando apenas relacionamentos em que nossas necessidades sejam respeitadas.

A insegurança é o resultado de uma vida em que nossas qualidades não foram suficientemente reconhecidas, ou, ao contrário, foram ignoradas ou pouco estimuladas.

Agora, cabe a nós, reconstruir este sentimento através de um trabalho paciente de autoconhecimento e do enfrentamento de nossos temores. Se conseguirmos nos manter atentos aos pensamentos negativos que cultivamos acerca de nossa própria identidade, vamos aos poucos alcançando um sentimento de confiança que se tornará cada dia mais sólido.

"A fragilidade do amor
...O amor é muito frágil, muito delicado. Você precisa ser muito cuidadoso e cauteloso com ele. Você pode causar um tal dano, que o outro se fecha, fica defensivo. Se você estiver brigando muito, seu parceiro começará a escapar; vai se tornar cada vez mais frio e fechado, de modo a não ficar mais vulnerável a seu ataque. Então, você o atacará ainda mais, porque você resistirá a essa frieza. Isso pode se tornar um círculo vicioso,e é assim que pessoas enamoradas pouco a pouco se separam. Elas se afastam uma da outra e acham que a outra foi a responsável, que a outra a traiu.

Na verdade, como percebo, nenhuma pessoa enamorada jamais traiu alguém. É somente a ignorância que mata o amor. Ambas queriam ficar juntas, mas ambas eram ignorantes. A ignorância delas fez com que entrassem em jogos psicológicos, e esses jogos se multiplicaram. Pouco a pouco elas vão se afastando. Então elas acham que o amor é perigoso.

O amor não é perigoso. Apenas a inconsciência é perigosa.
Há muitas pessoas que evitam o amor simplesmente para estar em chão seguro. Há pessoas que não querem se comprometer em nenhum relacionamento porque elas sabem que uma vez que você esteja comprometido e mais próximo, começam as brigas, começam as resistências e as coisas feias começam a borbulhar - então, pra quê?

No máximo elas ficam interessadas em relacionamentos sexuais, mas não em intimidade. E a menos que um relacionamento se torne íntimo e profundo, você nunca saberá o que é um relacionamento. Um relacionamento simplesmente sexual é uma coisa periférica e isso nunca o satisfará".
Osho, Beloved of my Heart.

Quem é o responsável por Oliveira Fidelis Filho - fidelisf@hotmail.com

A culpa é dos pais que não educam os filhos, do Estado que não investe devidamente na educação, dos alunos que não têm mais respeito, dos professores despreparados, das aulas "nada a ver"... Na eterna necessidade de transferir responsabilidade, toda a sociedade adoece. Dados recentes nos dão conta que dos 55 mil professores da rede de São Paulo, 16 mil (30%) foram afastados por motivos de saúde. Cresce concomitantemente o número de alunos com os mais variados distúrbios e disfunções, oriundos de famílias também fragmentadas e enfermas. Vivemos dominados pelo vício da transferência que a todos debilita.


Ao filósofo existencialista Jean-Paul Sartre é atribuída a famosa frase: "o inferno são os outros". Segundo Sartre, ao dependermos demasiadamente dos julgamentos e das ações dos outros, abrimos mão de nossa liberdade essencial e criamos nosso próprio inferno. Queimamos assim na fornalha alimentada por nossos próprios medos, pelos nossos "demônios" internos, pela incapacidade de autonomia. Para o filósofo francês, portanto, os outros não são necessariamente os causadores do nosso sofrimento; somos nós que transformamos o outro em carrasco de nossa tortura.

Somos geralmente ágeis em transferir a outrem as causas de nossas inseguranças, irritabilidades, desconfortos, carências, infortúnios, mágoas, stress, descompensações, explosões de ira, enfim nossa carência de Paz. No entanto, por mais que creiamos que "o inferno são os outros" é dentro de nós que ele queima.

"Os outros", com os quais somos "obrigados" a conviver como o patrão, sócio, colega de trabalho, vizinho, cônjuge, pais, filhos ou irmãos, entre outros, se não existissem ou se não se comportassem como se comportam, a vida seria um mar de rosas, o próprio céu; teríamos paz. Alucinamos! Para muitos ainda, o inferno não são os outros e sim a solidão emocional, intelectual, espiritual e relacional na qual se vêem mergulhados.

Na verdade, o outro realmente problemático que enxergamos, projetado no próximo, mora dentro de nós. Trata-se de outro que existe em desarmonia com o Eu, um ego desvirtuado e fragmentado em desarmonia com o Self, com a essência divina que habita todos os seres, humanos ou não.

Gosto da história da mulher que olhava através do vidro de sua janela as roupas mal lavadas da vizinha. Ela não poupava comentários maldosos, até o dia em que lavou sua própria janela e, como num passe de mágica, percebeu que as roupas da vizinha eram muito bem lavadas. Há mais de 2000 anos Jesus já recomendava: "Hipócrita! Tire primeiro a trave que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão." Tal ensinamento do Mestre me faz lembrar o dia que troquei uma lâmpada de 40 por uma de 100 watts em meu banheiro e passei a perceber que havia nele muita sujeira. Quando iluminamos melhor o nosso próprio interior percebemos que precisamos, e muito, de nos limpar.

Desde tempos imemoriais que alimentamos o vício de transferir para o outro as causas do nosso inferno pessoal. Tão antigo quanto o mito cristão de Adão e Eva, e certamente muito antes, é a reativa compulsão que nos leva a transferir responsabilidades e, sobretudo, não admitir que os infortúnios pessoais e alheios são sim de responsabilidade nossa. Com tais padrões comportamentais, cobrimos o planeta de mútuas, infindáveis e sombrias acusações; caminhamos em círculo, não evoluímos, não expandimos a consciência.

Assim, "Adão" e "Eva" continuam a se acusar mutuamente no tempo e no espaço. Sobre algum "bode expiatório" improvável despejam-se doentias culpas. Sobre um "cristo" divino ou humano acreditamos ser possível transferir densas e consteladas sombras. Sob alguma areia inconsistente, insiste-se em enterrar a cabeça, desconsiderando-se a insanidade de tal ato e a vulnerabilidade a que se está exposto.

Lembrando Freud, infelizmente, tais mecanismos de sobrevivência como negação, repressão, supressão, projeção ou racionalização, ainda que ajudem a sobreviver, estão longe de proporcionar acesso aos oásis de uma vida abundante. Foi, no entanto, para esta dimensão abundante de vida que o Mestre Jesus nos desafiou com sua própria vida e ensinamentos.

Mas como sair deste ciclo vicioso, desta forma-pensamento tão fortemente instalada no inconsciente individual e coletivo? Como nos livrar deste terreno empedernido, semeado de culpas, fugas, acusações e medos de onde germinam os frutos dos quais nos alimentamos e intoxicamos? Como desprogramar este robô formatado por crenças que nos subjugam a partir de comandos oriundos do subconsciente? Assumindo 100% de responsabilidade.

Enquanto não assumirmos 100% de responsabilidade, continuaremos a conviver com uma educação distante do ideal; com políticos corruptos, oportunistas, despreparados e incompetentes. Com líderes religiosos e espiritualistas estelionatários, com noticiários respingados de sangue e das mais variadas expressões de miséria, alem de infindáveis conflitos internos e externos.

Assumir 100% de responsabilidade é entender que aquilo que vemos acontecer fora de nós é simplesmente projeção de uma realidade que está dentro de nós pois, admitamos ou não, somos todos Um.

Significa no dizer do Mestre, "andar a segunda milha", ou seja, derrubar os muros do ilusório isolamento que buscamos erguer pela transferência da culpa, passando a caminhar amorosamente ao lado de quem, segundo o nosso entendimento, nos impõe limitações e sofrimentos. Nem sempre esta caminhada ao lado precisa ser física mas deve ser sempre próxima ao coração. Só assim estaremos buscando diluir as sombras que enxergamos nos outros, na Luz que em nós precisa existir.

Significa, ainda, lembrando o Mestre, "dar a outra face". E aqui faz-se necessário baixar a guarda da reatividade. O que se propõe é responder com silêncio amoroso o grito rancoroso; colocar na bandeja da maldade o cálice da bondade; acolher na mansidão os atos de agressividade; iluminar com a face do amor os caminhos sombrios do ódio. Dar a outra face, portanto, é diluir na Luz interior as trevas exteriores, é agasalhar no calor da reconciliação a frieza das guerras conscientes que a face dura e gélida do mal só derrete e aquece na magia do Amor.

Assumir 100% de responsabilidade é colocar em prática o princípio da semeadura e colheita como disse Jesus: "tudo quanto, pois, quereis que os homens voz façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a lei e os profetas". Neste princípio está implícito tudo o que é mais significativo na expansão da consciência, no desenvolvimento da espiritualidade, na saúde existencial e relacional.

Assumir 100% de responsabilidade não significa se culpar e sim transformar.

Os fios da nossa vida :: Sonia Weil ::

Toda vez que amamos uma pessoa lançamos, por assim dizer, um fio de nossa energia sobre ela, o que cria uma conexão viva entre os dois campos vibratórios, mesmo à distância. Dessa forma, "sentimos" quando ela não está bem ou quando pensa em nós intensamente.

Projetamos esse fio de conexão também sobre os amigos, as pessoas que gostamos, os projetos que temos; toda vez que nos identificamos com alguém e alguma coisa, lançamos nela uma parte de nossa energia, criando o vínculo.

Da mesma forma, quando odiamos alguém ou temos medo de algo, também nos ligamos energeticamente, mesmo sem querer. Quantas vezes ouvimos falar de pessoas que durante anos e anos ficaram presas entre si pelo ódio, sempre realimentado, sem conseguir seguir adiante na sua vida...

As situações mal resolvidas no passado formam muitas vezes uma rede de fios que carregamos nas costas (à imagem dos cães que arrastam na neve os trenós nos países gelados ) - continuamos arrastando as lembranças e culpas pela vida afora - e empenhando tanta energia nisso que pouco sobra para estarmos disponíveis para o presente. Ficamos, literalmente, amarrados ao passado.

Vivemos, assim, em meio a uma rede de fios que nos liga às pessoas, situações, ideais, medos, lembranças e esperanças.

Esse vínculo pode ser muito prazeiroso em certas situações, como quando amamos; mas quando o contato termina, muitas vezes sentimos que "uma parte de nós" ficou com o outro. Embora estejamos nos referindo aos sonhos e expectativas, isso ocorre realmente em termos energéticos.

É necessário "puxar o fio de volta", resgatar a energia que ficou projetada sobre o outro, e Integrá-la novamente em si mesmo. Voltar a estar inteiro.

O perdão é uma forma de fazer isso. Ao perdoar o outro, abrimos mão de toda expectativa lançada sobre ele e com isso trazemos de volta toda a nossa energia que com ele estava - seja sob a forma de amor, mágoa, raiva ou desejo de vingança. Ao liberar o outro, nos libertamos também.

Da mesma forma, ao resolvermos internamente alguma situação do passado - aceitando as coisas da forma como aconteceram, mesmo que não tenha sido da maneira como esperávamos - recebemos de volta a energia lá investida e que até aí estava paralisada.

Ao fazer isso, fecha-se a brecha, e nos tornamos mais completos novamente. O que o outro faz não nos afeta mais. O que aconteceu é passado. Nos tornamos mais atentos ao presente. E, principalmente, mais disponíveis para a vida.

Encontre a vítima e a liberdade... :: Rubia A. Dantés ::

Recentemente, percebi em algumas pessoas ao meu redor... uma coisa interessante...
Percebi que nessas pessoas, a posição de vítima, era algo tão sutil que seria difícil imaginar que elas, em um algum ponto, se colocavam como vítimas...
Olhando assim e convivendo com elas já há bom tempo, não havia percebido ainda nada relacionado a ser vítima, muito pelo contrário, me pareciam tão seguras que ficava difícil até de imaginá-las como vítimas de alguém ou de alguma situação.

E notei que esse ponto onde elas eram vítimas, era o ponto aparentemente mais difícil de liberar na história de cada uma.

Essa história começou quando uma noite comecei a fazer H'oponopono para uma dessas pessoas e depois de um sonho acordei com uma clareza da situação daquela pessoa, e para minha surpresa percebi que em um ponto fundamental para ela... ela era vítima... vítima indefesa de uma situação que já se arrastava a bastante tempo... e agora, era tão obvio e claro que eu não entendia como não havíamos percebido aquilo antes.

Telefonei para ela e ela ficou surpresa porque realmente viu que era aquilo mesmo...

Em outras pessoas isso é muito visível e claro, porque elas usam descaradamente dessa posição para conseguirem atenção, que venha por um consolo, uma palavra aqui e outra ali e com isso perpetuam a vítima que passa a ser parte delas...

Mas dessa vez meu foco se voltou para perceber como, de uma forma ou de outra, quase todos nós nos colocamos na posição de vítimas, por mais desconfortável que seja nos sentirmos assim... e por mais que pareça que ela não esteja entre nossos problemas
Claro que fui buscar em mim onde estava escondida a vítima, e nem foi preciso procurar muito porque parece que ela estava pronta para ser trabalhada e liberada... Assim espero do fundo do coração...

Naquele ponto que é crítico, e que já nos acostumamos tanto com ele, pode ser que muito sutilmente a vítima esteja tirando a nossa energia e nos impedindo de fluir pela vida com alegria.

Uma outra pessoa que também não aparentava em nada ser vítima... me falou nesse dia que tinha uma alergia que a fazia espirrar sem parar e isso a deixava sem energia e lhe dava uma aparência muito fraca... mas essa alergia só a acometia durante o dia. Essa pessoa adora dormir bem à noite, e comentou que à noite, era só ela deitar que dormia feito um anjo, que a alergia não se manifestava. Brinquei com ela que a alergia só aparecia para cumprir alguma função que ela ainda não percebia, mas que ela gostava tanto de dormir que à noite ela não criava a alergia. Ela é uma buscadora e riu... e percebeu que realmente era engraçado isso.
E logo depois conversando com ela sobre a vítima percebemos exatamente o ponto onde ela se colocava assim e onde repetia a mesma história...
E ela era vítima sempre da mesma situação que a incomodava profundamente ao longo de muito anos...
O mais interessante, nesses casos em outros que também ficaram bem claros, é que as pessoas que as faziam de alguma forma estarem na posição de vítimas tinham muito nítida essa característica...

Elas se dedicaram então ao Ho'oponopono... e eu também... e já colheram os frutos...

Percebi como somos vítimas naqueles pontos onde as coisas não conseguem fluir e não conseguimos entender porque... Seja uma doença, uma situação desagradável, ou qualquer outra coisa que nos deixa nessa incômoda posição, que erroneamente pensamos que não podemos fazer nada... Queixamos com um... com outro... e nem percebemos que a vítima está se manifestando...

No meu caso, vi que me sentia vítima das coisas práticas da vida e pude notar claramente o movimento que fazia para me deixar vitimar por elas... começava uma coisa e logo outra me puxava e mais outra e no fim o prático ia sendo sempre deixado para depois...
Esse foi um ponto que logo me saltou aos olhos... porque eu posso até não gostar de fazer algumas coisas, mas posso conseguir que elas sejam feitas por quem gosta... Mas isso não serviria ao meu papel de vítima... Mas agora não preciso mais desse papel e sei que tudo vai fluir mais facilmente...

Quando assumimos a responsabilidade por tudo que nos acontece, não somos mais vítimas de nada... Mas, quando a vítima está tão escondida que nem notamos, ela pode ir atuando e roubando nossa energia e a de todos que escutam as lamentações...

Então... fiz muito Ho'oponopono, pedindo para limpar a causa de me colocar na posição de vítima... e na manhã seguinte o primeiro e-mail que recebo é um texto falando sobre esse tema e confirmando que, nos liberarmos do papel de vítimas é uma chave preciosa para assumirmos nosso poder pessoal... e a felicidade.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Prana: Chuva de Luz Viva - Capítulo 11 por Márcio Lupion - marcio@kallipolis.org

O exercício de Meditação nada mais é que uma submersão consciente no silêncio...

Não importa se estamos sozinhos no alto de uma montanha ou caminhando por uma avenida lotada de carros e pessoas. Quando o nosso ego parar de querer, pensar e julgar, o olhar simples do espírito se manifestará. E assim é, porque a natureza da clarividência está na atitude contemplativa, no observar com humildade o mundo sem acreditar na dualidade.
Depois das primeiras experiências com clarividência, percebi que a manutenção deste "novo" sentido acontecia pelo simples fato de se manter sem pensamentos, vazio de si mesmo, silencioso no mundo interior, e como "mágica" o mundo exterior parecia também silenciar.
Manter este universo tem um preço; ficar sozinho, calado e imparcial.
Sendo assim, passei a compartilhar o mundo real com os nossos "irmãos" invisíveis, agora sempre por perto. Anjos, arcanjos, fantasmas famintos, demônios, elementais e egrégoras faziam e até hoje fazem parte da rotina diária.

Este universo manifesta a inspiração intuitiva, mental e emocional para quase tudo que rodeia um ser humano negativo preso em seu próprio ego.
Mantínhamos o corpo, a fala e a mente sempre ocupados com trabalho, silêncio e mantras, para não sentir nenhuma motivação vinda dos seres e dos mundos inferiores. "Vigiávamos e orávamos" o tempo todo e, quando falhávamos, a dor era enorme.
Com pequenas distrações do nosso ego, entidades negativas visitavam nossa mente, fomentando medo, dúvida, intrigas e muito cansaço físico. A sensação de ter apanhado muito era comum. Essas ocorrências nos faziam sentir muita vergonha, mas com humildade, em pouco tempo jogávamos tudo fora e transcendíamos esta sensação.

Em uma das primeiras "pujas" (festas rituais) do Senhor Buda, que acontecem sempre no mês de Maio, estávamos todos reunidos em estados meditativos e cantando mantras quando, sem motivo algum, abri os olhos. Demorou alguns segundos para entender o que estava acontecendo, a clarividência descrevia, diante do meu olhar vazio, um universo de luz e som indescritíveis. Olhei para os monges à minha frente e eles pareciam ter uma esfera de luz no lugar de seus rostos, tão intensa que me admirei em não estar ofuscado.
Cada vez que cantávamos "buda", "jay" ou qualquer outra sagrada louvação, uma Chuva de Luz caía do alto, entrava em nossos corpos e saía por nossos poros. Era um banho de "água-luz" maravilhoso; como um banho de cachoeira, essa chuva dançava pela sala, no ritmo da música, tal como os movimentos dos cardumes de peixes nos oceanos.

Dos meus olhos escorriam lágrimas, de uma forma nada convencional, elas simplesmente escoavam-se num filete contínuo pelos cantos externos. Olhei para o alto e, por impulso, levantei os braços e as mãos e, quando isso ocorreu, os "micro-sóis", as "bolinhas de luz" assumiram a textura de flocos de neve e, em seguida, transformaram-se em pétalas de luz branca, caindo muito devagar.
Até a arquitetura do lugar se alterou, agora estávamos em devoção profunda em um andar de uma espécie de prédio circular, com mezaninos superpostos de altura infinita, parecido com um pagode oriental.
Logo nos andares de cima vi Seres luminosos com as mãos entendidas em nossa direção e era dessas mãos que brotava toda aquela luz de paz, amor e carinho.
Quando olhei para baixo, o edifício continuava lá, e vi algo que me comoveu ainda mais. Nos andares de baixo, demônios, com muito esforço, estavam sentados tentando meditar. Para um demônio sentar é quase impossível, pois os seus corpos são feitos de impaciência e insatisfação.
Chorei por muitos dias e dias, mas senti na pele que as virtudes dos reinos superiores estão sempre à nossa disposição e ao alcance das nossas mãos.
Olhar para os templos hoje é um exercício de responsabilidade, pois cada um deles é um portal para os reinos superiores, como tudo ao nosso redor.
Espero que todos possam caminhar sem a roupa do ego, por um mundo puro, sem julgamentos pessoais, para que todos juntos possamos desfrutar do paraíso que nunca abandonamos.

A ajuda divina chega quando estamos dispostos a nos ajudar por Teresa Cristina Pascotto - crispascotto@hotmail.com

Muitas vezes, ficamos reclamando e pedindo incessantemente a Deus que nos ajude, só que na verdade, geralmente, o pedido oculto é para que Ele nos salve. Queremos que um milagre aconteça para que possamos sair do buraco em que estamos -às vezes, é assim que nos sentimos-, sem que, para isso, precisemos fazer algum esforço. Acreditamos que fizemos tudo "direito", que não cometemos erros, que o que está nos acontecendo de ruim "não é nossa culpa" e, com isso, nos sentimos até mesmo vitimizados e excluídos dos Planos de Deus. Quanto mais acreditamos nisso, mais ficamos choramingando, reclamando e pedindo ajuda a "Deus e a todo mundo". Mas nunca estamos satisfeitos com a ajuda que recebemos, estamos sempre nos sentindo contrariados e não compreendidos. As pessoas que resolvem nos estender as mãos nunca o fazem da forma conforme gostaríamos e acabamos não aceitando ou não reconhecendo o apoio que nos oferecem. Desvalorizamos e desqualificamos toda a ajuda que não seja exatamente de acordo com o que queremos e acreditamos ser o que estamos precisando.

Isto ocorre porque nosso Ego acredita saber o que precisamos e como a ajuda deve ser e acontecer. Ele só quer que melhoremos e nos sintamos bem e felizes e, para isso, busca fórmulas mágicas, práticas e imediatas de trazer aquilo que ele, em sua ignorância, necessita. O Ego quer que o mundo à nossa volta mude, ele acredita que sempre fazemos tudo certo e que os outros são errados e querem nosso mau e, para mudar o mundo, ele quer que possamos encontrar meios de nos fortalecermos, através da ajuda, para manipularmos e controlarmos a tudo e a todos.

Se ficarmos presos a isso, só atrairemos as "ajudas erradas" e jamais estaremos prontos para receber a ajuda real e divina. E, quando esta bater à nossa porta, não a reconheceremos, pois estaremos com uma vibração tão negativa que não conseguiremos sentir e perceber a vibração divina e sutil que a real ajuda emana.

Mesmo porque, a ajuda divina, nem de longe é a ideal, para nosso Ego ignorante, arrogante e prepotente. Refiro-me ao Ego desta forma, quando ele está em uma condição de desequilíbrio, pois precisamos do Ego, mas desde que ele esteja saudável e alinhado ao nosso Eu Real, e atuando em parceria e sob o comando deste. Conseqüentemente, quando a ajuda divina chega, o Ego a rejeita e reclama mais intensamente. Normalmente, ela contém as condições e características que mexem com a nossa realidade interna, fazendo-nos sentir incômodo e até mesmo irritabilidade, em determinados contextos. Esta é uma reação do Ego tirano que não quer de verdade ser ajudado, só quer ser salvo, para continuar no poder e controlar o mundo ao seu bel prazer. Assim, ele a descartará ou, pior ainda, fará de tudo para nos afastar da dela, para não correr o risco de nosso coração se manifestar com a proximidade da vibração divina e nos fazer sentir e perceber que essa é a ajuda que de verdade precisamos. O coração nos dirá: Ela parece estranha, dará trabalho para sair disto e assumir a responsabilidade, mas é desta ajuda que preciso e que vou aceitar!

Mas o Ego abomina toda e qualquer possibilidade, mínima que seja, de que nosso coração se desperte diante de um apoio verdadeiro. O coração nos levará à entrega ao nosso Eu Real e, este sim, sabe que tipo de ajuda realmente precisamos.

Esta ajuda divina nos trará todas as condições iniciais necessárias para que possamos de verdade sair do atoleiro em que nos colocamos. Sim, nós nos colocamos, não é a vida nem ninguém que faz isso conosco. Portanto, aqui já deparamos com a auto-responsabilidade e esta nos dá trabalho e nos assusta. Aqui o Ego se defende e se manifesta, e nos faz sentir uma imensa preguiça e nos faz acreditar que será impossível sair do atoleiro através das opções de apoio apresentadas.

A ajuda divina nos mostra que o caminho verdadeiro que nos tirará do atoleiro, é o caminho para dentro. De qualquer forma que essa ajuda se manifeste, ela nos levará a olhar para dentro de nós para encontrarmos todas as respostas, aspectos negativos, verdades ocultas, conhecermos a nossa responsabilidade sobre tudo o que nos acontece e, principalmente, nos levará a encontrar todos os potenciais, capacidades, ferramentas e dons necessários, não só para sairmos do atoleiro, mas, principalmente, para darmos uma guinada em nossa vida e nunca mais retornarmos à condição lamentável em que estávamos.

Com isso, nossa consciência desperta para esta verdade, mas de uma forma que nos leva para além de um simples conceito -conforme estamos cansados de saber-, e nos leva a sentir essa verdade no fundo do nosso coração. Conseguiremos compreender com a alma o significado daquilo que viemos ouvindo por muito tempo, mas que nunca conseguíamos de fato trazer para nossa realidade divina e verdadeira, trazendo-nos, assim, as possibilidades de verdadeiramente efetuarmos mudanças e realizarmos nosso propósito de vida.

A ajuda divina nos mostrará que de nada adianta mantermos a condição anterior, de buscar ajuda da forma errada e sem querermos fazer nossa parte, e de nunca estarmos satisfeitos com o apoio que recebemos, sempre exigindo mais e mais das pessoas que nos ajudam, mas nunca aproveitando e apreciando o que nos oferecem. Ou fazemos a nossa parte e buscamos nossas realizações ou ficaremos eternamente atolados em nossas próprias armadilhas.

Se estivermos verdadeiramente dispostos e prontos a nos ajudar, a ajuda divina chegará e a reconheceremos imediatamente. E, principalmente, saberemos como aproveitá-la e como utilizá-la de forma sábia e proveitosa em nossa vida.

Deixo aqui uma sugestão: Ajude-se, tome uma atitude madura diante de si mesmo e só busque ajuda se, de verdade, estiver disposto a sair de suas dificuldades, com seus próprios recursos internos. O apoio que vier em verdade será apenas para te fazer acreditar mais em si mesmo para que prossiga com segurança e determinação.