quarta-feira, 5 de maio de 2010

Saber Amar - Artur da Távola

Tão raro quanto amar, mas certamente bem mais difícil, é saber amar.
Saber amar é conceber o amor como arte. O amor é um sentimento.

Saber amar é uma criação, visão estética do amor.

Saber amar é a flor certa, o disco preferido ganho fora de hora ou a compreensão do desamor, do cansaço e da dúvida. Mas é, com uma segurança absoluta, o olhar fundo do sentimento, o carinho preciso, a mão firme, a pela dialogando de igual para igual, gritando ou sussurrando conforme a hora; é a temperatura da paz recobrada.

Saber amar não é a aceitação passiva do outro. É a existência ativa do amor.

Saber amar implica aceitar uma porção de coisas que o amor não sabe: esperar; deixar; fluir; não invadir as dúvidas do outro; não abafar nem impedir, ainda que com carinho, que a outra parte jogue fora a fossa, a angústia ou a dor que a oprime.

Quem ama desama junto. Quem sabe amar, suporta esse desamor, se passageiro, é claro. Porque quem sabe amar conhece a medida exata dos orgulhos que valorizam o amor. Nada é pior do que a desistência de quem sabe amar. Do que o ferimento ou a indiferença de quem sabe amar. Quem ama tolera ser maltratado. Quem sabe amar, jamais. Porquem quem sabe amar não escolherá pessoa que maltrata ou quer ser maltratada.

Quem ama, quando cansa, pode voltar a amar. Quem sabe amar, quando desliga é para sempre. É mais fácil afrontar a quem ama (um estado no qual todos ficamos meio sem caráter) do que quem sabe amar. Este, conhece tanto a importância do seu sentimento, que quando o retira, machucado, incompreendido ou ferido de morte, é para sempre.

Quem ama é mais inocente do que quem sabe amar. Mas quem sabe amar é capaz de maldades maiores a partir do momento em que desiste. Desiste de saber amar, porque pode até continuar amando.

Cuidado com quem ama! Mas cuidado muito maior com quem sabe amar!

Quem perde um amor perde menos do que quem perde alguém que sabia amar.

Saber amar não é depender. Não é ser servil. Não é viver agradando. Não é fazer o que o outro quer. Saber amar é ter as reações certas, de compreensão e crítica; é ocupar todo o seu lugar no espaço e no tempo do sentimento e da emoção do outro. Saber amar é até saber desistir.

Saber amar é aquela parte que partindo do amor procura (até encontrar) a parte do outro que um dia saberá amar. E a encontrando tem paciência, afeto e tolerância com ela. A menos que descubra que não mereça. Porque saber amar é também ter a coragem das renúncias e das pacientes esperas, o que, quem apenas ama, raramente tem.

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