Ouço pessoas dizendo que vão à igreja (templo) não por causa das pessoas que lá se encontram mas para servir a Deus. Interessante, pois para servir a Deus não precisamos ir ao templo.
Jesus, o Cristo, não se interessava pelo templo de Jerusalém como também não se impressionava pela Jerusalém de seu tempo mais que por Samaria ou qualquer outra cidade ou vilarejo.
O exercício de Sua espiritualidade não se atrelava à religiosidade. Sua adoração era fruto de desconstruções mais do que construções. Ele não desafiava Seus seguidores a construir templos e sim reconstruir suas próprias vidas. Quando chamaram Sua atenção para a imponência do templo construído por Herodes, sua profecia visou à destruição do mesmo. Sabia que as ordens contra a liberdade e os impulsos de Vida partiriam do templo.
Em contato com os líderes religiosos, o que o impressionava não era a teologia, a doutrina, o discurso, a tradição, os sacrifícios, os ritos, a liturgia e, sim, a hipocrisia dos Fariseus, a cegueira patrocinada e perpetuada pela religião, a escravidão duplamente implementada, a espoliação praticada, a maldade legalizada e travestida de piedade.
Não se prendia a usos e costumes e nem aos costumes em uso. Sua piedade e pureza germinavam do coração antes de florescer e frutificar. O compromisso de amor era com as pessoas a quem Ele encontrava e abençoava onde o encontro acontecesse. Sua verdade libertadora emanava da Fé mística, geradora de Esperança - sempre! Sua liturgia era interativa e dinâmica, processava-se no meio do povo e para o povo, rica de atos de compaixão, misericórdia, bondade, acolhimento oriundo do Amor.
Pela herança cristã, convivi e me envolvi com vários templos, quer freqüentando, construindo ou reformando. Viajando por este mundo, adentrei em templos cristãos (evangélicos, anglicanos e católicos), muçulmanos, budistas etc. Em alguns orei, em outros meditei ou "simplesmente" silenciei.
De uns temos para cá, passei a freqüentar mais assiduamente um templo com o qual tenho me surpreendido. Sinto-me cada vez mais acolhido, amado, harmonizado, em paz, além de mais saudável emocionalmente, mentalmente, fisicamente e com muito mais flexibilidade nos relacionamentos.
Neste templo, exerço funções simples mas de suma importância, tais como Porteiro, Faxineiro e Adorador.
Como porteiro, cabe-me cuidar do que entra e do que sai. Nem sempre é possível evitar a entrada de sujeitos mal intencionados com potencial de criar situações desagradáveis.
O templo possui cinco portas mais perceptíveis, delas duas exigem muita atenção. Controlar o que entra, significa muito para manter a harmonia interior. Quando entram sujeitos desagradáveis busco Sabedoria para converter os desagradáveis em agradáveis, de tal forma que ao deixarem o templo, saiam transformados e com poder de abençoar. Ao conseguir tal objetivo percebo-me como que servido por anjos.
Para exercer a função de porteiro observo a orientação de Jesus que é mais ou menos assim: "não é o que entra que causa problema e sim o que sai", ou, parafraseando: não é o que entra, mas como sai. Esforço-me, portanto, para que o sujeito, ao sair do templo, saia transformado, iluminado, banhado de amor e acrescido em sabedoria.
Como faxineiro, o desafio é manter o interior do templo o mais limpo possível. Não obstante gostar de cuidar do exterior, sei que é a limpeza do interior o mais importante, por isso passo bom tempo cuidando do interior. Enquanto trabalho, procuro deixar as janelas abertas para que seja aquecido e iluminado pelo Sol e para que o Vento mantenha no interior o ar sempre renovado, leve e agradável.
Para melhor exercer a função de faxineiro, observo a orientação de Jesus que é mais ou menos assim: "Digno de minha felicitação é o que limpa o coração, pois assim fica fácil ver Deus". Alegra-me perceber o interior iluminado e limpo, sem sombras ou sujeiras. Quanto mais limpo o interior mais fácil fica para mim - e para os outros - ver e sentir a presença de Deus.
Como adorador, confesso que só me sinto confortável quando exerço bem as funções de porteiro e faxineiro. Então, percebo a presença de Deus enchendo todo o templo. Quando isso acontece, a adoração é natural, verdadeira, desejável e muito prazerosa. O interior do templo fica iluminado, o que pode ser visto até do lado de fora. Sinto-me pleno do Espírito Santo, acolhido e amado por Deus, e nutrido pela presença Crística.
Neste templo sagrado me encontro com Deus, recolho-me ao silêncio, harmonizo mente e coração e, ao meditar, sinto-me diluído no Eterno Mistério que com intimidade amorosa chamo de Pai Nosso.
É neste templo que me abandono em contemplação, encantamento e elevação, que ressignifico minha história, que encontro minha alma e a ouço falar a partir do Santo dos Santos situado no meu coração. É neste templo sagrado que encontro comigo e adquiro sabedoria para eliminar os desencontros com o próximo e suavizar os percalços da vida.
Para melhor exercer a função de adorador procuro observar a orientação de Jesus quando disse que os "verdadeiros adoradores adorariam ao Pai em espírito e em verdade", e que para sermos encontrados por Deus como verdadeiros adoradores não dependeríamos de lugares específicos ou fatores externos.
O refúgio que encontrei, onde exerço as funções de porteiro, faxineiro e adorador é o do templo do Grande Espírito, morada de Deus e de minha essência. Falo do meu corpo, que cuido de forma mais apaixonada desde que percebi que ele abriga tudo o que de Deus posso sentir e conhecer. É o meu templo sagrado onde estou todos os dias da minha vida e com o beneficio de poder levá-lo comigo onde quer que eu vá.
Lembre-se: "Dentro de você há um silêncio e um santuário para onde você pode fugir a qualquer hora e ser você mesmo." Hermann Hesse.
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